sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Como enfrentar o Ditador interior - O desafio de se contrariar uma criança autista! - Por Cristiano Camargo



Em outros artigos anteriores eu já tinha falado meio que por cima , de um dos quatro grandes componentes do Mundo Interno de Fantasia, o Ditador interior ede sua relação com outros componentes (Juiz Interior, Consciência e Criança Interior).Hoje falarei com mais detalhe sobre o Ditador Interior, pois este é o componente que mais influencia um comportamento que mães e pais de autistas tem observado em seus filhos hoje em dia: a revolta com qualquer tipo de contrariedade!
Como já explicado antes, o autista imaturo tem o seu Mundo Interior de Fantasia onde ele se refugia da Realidade que ele odeia e/ou tem medo. E lá ele é o Chefe, o Rei, o imperador, o Ditador, dominador total de seu Mundo, de seus personagens, onde até objetos inanimados funcionam e obedecem suas vontades. Sobre todos e tudo, o Autista tem o Poder Absoluto de vida e morte , e as regras servem só para os seus comandados, ele mesmo não precisará seguir ou obedecer suas próprias regras que ele cria. Estas regras, inclusive , mudarão de acordo com suas vontades e caprichos, quando ele quiser. Ninguém o desafia, nem o desobedece.
Só que na Realidade as coisas são diferentes: ali o Autista é que é o comandado, ele que tem de obedecer a regras que não foi ele quem criou, e que em muitos casos são rígidas e não mudam quando lhe parecem inconvenientes. Ele simplesmente não pode fazer o que bem quiser, nem exigir que todos o obedeçam.
Mas descobrir isto é um tremendo choque- um trauma !
Isto coloca em cheque a validade de seu Mundo Interno de Fantasia(MIF) e traz a angústia de saber qual está certo, qual está errado, e de não poder trazer para dentro de seu MIF as regras da Realidade, nem de trazer as regras do MIF para atuarem na Realidade. Dois mundos muito diferentes, um paradoxo, uma dúvida, uma escolha?
Mas a sua referência é seu MIF e sua vontade é sempre a de usar na Realidade as Regras do MIF.
A Realidade para ele é algo novo, estranho, desconhecido, que ela ainda está tentando entender, e que lhe parece hostil, agressiva, perigosa. Já o MIF ele conhece bem, está acostumado e se sente feliz e seguro lá.
Porém, a Vida exige dele que ele atue na Realidade. Geralmente ele tem irmãos, colegas, amigos, pais e outras pessoas que estão em contato com ele. Duas delas ele identifica como Pai e Mãe, e ele sabe que uma das regras fixas da Realidade é ter de gostar do Pai e da Mãe e obedecer a eles.
Mas nada na Realidade funciona como ele gostaria, nenhuma das regras que ele mesmo inventa pode ser aplicada ali, nada é como ele gostaria, e o conflito interno se inicia, pois o MIF é sua referência, então, no entender dele, MIF e Realidade deveriam ser a mesma coisa, e o que valesse em um deveria valer para o outro. Deste impasse e da consciência de que ele é impotente para fazer da Realidade uma extensão do MIF e aplicar suas regras lá, mandar em todo mundo e ser obedecido, desta inconformidade, nasce o Ditador Interior.
O Ditador Interior exige do Autista que ele comande, que ele transforme a Realidade em MIF e aponta a Realidade e tudo o que tem nela como “inimigos”.Mas pai e mãe não podem ser “inimigos”, isto contraria até seus instintos mais básicos-mais uma contradição, um paradoxo, um impasse, uma nova impotência(da qual também o Juiz Interior aproveita para cobrar eficiência do Autista)e tudo isto gera desilusão, humilhação, rejeição, complexo de inferioridade, e fere seu orgulho próprio!
Com a desilusão vem a decepção, com a decepção vem a tristeza, com a tristeza vem a depressão e a angústia, e com elas, a raiva, a revolta.
Não é bem uma raiva das pessoas, mas uma raiva de si mesmo, de não estar conseguindo fazer da Realidade , o MIF.
Então ele tem uma vontade de alguma coisa, e pai ou mãe negam. Ou eles dão uma ordem, e aí o pensamento autista imaturo é :”-se eles não me obedecem como deveriam, por que eu deveria obedecê-los?”
A dor de se ver em posição hierárquica dos pais o leva muitas vezes a achar que todas as pessoas do mundo estão em posição hierárquica maior que a dele e isto bate de frente com a realidade do MIF dele, que é exatamente o contrário.O complexo de inferioridade grita alto e a dor precisa ser estancada com um complexo de superioridade para manter a integridade de seu amor próprio, de sua auto-estima.O Ditador Interior ruge como fera e desperta no Autista imaturo sua revolta e inconformidade.Ele exige ser obedecido e quanto mais impotente se sente, menor se sente diante dos pais. Quanto maior o tom de voz dos pais, quanto maior o tom autoritário das palavras dos pais, mais a revolta se amplifica e se multiplica. Ele exige de si mesmo que ele seja como ele é no MIF, e não se conforma de a Realidade ser tão diametralmente diferente. No seu MIF tudo era previsível, tudo lhe obedecia. Na Realidade, o “previsto” era que os pais o obedecessem e ele mandasse nos pais, e se isto não acontece (e práticamente nunca acontece), os pais passam a ser “imprevisíveis”, e ele tem de encarar punições, broncas, castigos, ou tem de ir a lugares ou fazer coisas contra a sua vontade.
E isto o revolta !Quanto mais comandado ele se sente, mais inferior se sente, e quanto mais inferior se sente, mais superior quer ser. Até que um dia ele descobre que a raiva que ele sente no olhar e na voz ou mesmo nos gestos dos pais é muito maior que a dele. Aí s inicia o medo e a auto-repressão, e a timidez e a depressão aumentam.
Mas nem sempre isto acontece, especialmente hoje em dia, em que os autistas costumam ser criados cercados de amor e carinho.
Mas quando eles percebem que todos os seus desejos, todas as suas vontades estão sendo “obedecidas”, com sorrisos, aí ele começa a realmente acreditar que MIF e Realidade funcionam do mesmo modo e que seus pais são personagens de seu MIF que ele pode controlar.
Mas depois de acostumado ao conforto desta conveniência e previsibilidade, os pais “escapam de seu controle” e passam a dar ordens, exigir coisas,ele sente isto como uma “traição de confiança” e perde a confiança nos pais, pois tudo o que é imprevisto e não planejado o assusta.
Ele se sente inferior, e se revolta, e quer que ele continue sendo paparicado e obedecido como sempre, pois inclusive isto já era uma rotina para ele.
Ele passa a exigir tudo dos outros e cobrar que suas vontades sejam obedecidas, muitas vezes recorrendo ao choro, ou ‘a agressão.
Se a “desobediência” dos pais for sistemática, e ele perceber que nada dá certo e que ele tem de obedecer tudo e os pais nada, ele pode se auto agredir, além de agredir aos pais, punindo aos pais pela “desobediência” e a si mesmo, pelo que ele considera sua própria incompet~encia,incapacidade, seu fracasso, e vocês sabe, o autista exige muito de si mesmo por conta do seu Juiz Interior, e não se perdoa, por que o Juiz Interior é implacável, só condena!
Tudo explicado, o mecanismo das ações e a razão de seus comportamentos, como os pais devem agir diante desta situação?
E agora, o que fazer? Como resolver este impasse?


Vamos então às dicas:
A) Comece pelo tom de voz: evite tons severos, autoritários, bravos.
Evite expressões tipo: você tem de fazer isto, você vai ter de fazer, faça já, como é que é vai ou não vai, olha o que voc~e fez, eu quero que você faça isto, faça por que eu estou mandando,etc. Substitua por: você não gostaria de fazer isto? O que você acha de fazer aquilo?Eu ficaria tão feliz se você fizesse tal coisa para mim !,Que tal você fazer aquilo? Vamos fazer tal coisa? Ou seja, substitua afirmações por perguntas.
C) Evite transmitir para ele ou deixar ele perceber sua raiva stress ou impaciência.
D) Não eleve muito o tom de voz, nem grite. Quem grita mostra que já perdeu a autoridade e está apelando.
E) Não fique insistindo trocentas vezes na mesma ordem, de um em um minuto. Isto é irritante e pode fazer ele ficar ainda mais nervoso. Alguns podem ver nisto um jogo divertido e teimar em desobedecer para desafiar os pais e fazer eles perderem o controle, e assim, vencê-los pelo cansaço até que decidam obedecer à vontade dele.
F) Se ele questionar uma ordem, com os clássicos “por quê?” ou “para quê?”, evite responder com expressões tipo: porque sim, porque não, não interessa, não é da sua conta, não responda para mim me respeite, etc. Respondam objetivamente, detalhadamente, com argumentos lógicos. A lógica é simpática aos autistas e os impressiona bem e sendo eles convencidos por seus argumentos, obedecerão sem revolta.
G) Procure ser previsível em suas reações. Se para determinadas situações você sempre reagir da mesma maneira, ele vai sentir em você o conforto e a segurança da previsibilidade, e vai obedecer mais e melhor, por que a confiança dele em você aumentará.
H) Caso ele recuse as sugestões, ofereça alternativas, reformule a pergunta, ofereça o conforto e a confiança dos argumentos lógicos. Desafie a inteligência dele!
I) Prometa compensações e prêmios(que você possa cumprir)caso ele recusar: premiar educa mais que castigar, e muitas vezes a ausência do prêmio em si já é um castigo.
J) Evite bater de frente, provocar, evite leva-lo onde você sabe que ele não gosta de ir
K) Caso ele recuse, pergunte qual a razão da recusa. Se você achar que ele tem razão em recusar, e que a razão dele é lógica, respeite, se não, mostre a ele com argumentos inteligentes, lógicos e sensatos que ele está errado, ele irá obedecer por que não trairá sua própria lógica.
L) Seja criativo(a)!Ao dar uma ordem, diga, por exemplo, que tem uma missão para ele cumprir e pergunte se ele aceitará o desafio? A ordem parecerá uma brincadeira e provavelmente ele obedecerá com um sorriso, ao que vc pode responder, entrando no espírito da brincadeira, por exemplo, batendo continência...rsss...ou ainda fale que duvida que ele faça isto ou aquilo, ele vai querer te provar que é capaz! Mas não o subestime para ele não se sentir humilhado, já que o sentido é ele se sentir desafiado.
Bom, então é isto, ao menos por enquanto!

Cristiano Camargo

Extraído da página facebook De asperger para asperger 
Grata
Daniela Bolzan

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Curso De Capacitação sobre Autismo Em São José do Rio Preto -S.P com Dr. José Facion.


Olá queridos Leitores.. 
Venho com muita alegria compartilhar com vocês mais uma realização da Clínica Espaço do Autista da Pedagoga Sabrina Strabelli, o Curso de Capacitação  ENTENDENDO O AUTISMO com o Dr. José Facion, uma excelente oportunidade  para todos. Contamos com sua presença.
  

Grata a Todos
Daniela Bolzan